Sobre… UNIVERSIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA

Prof. Gersiney Santos
13 min readMar 21, 2021

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Um diálogo sobre discurso, texto e cidadania a partir das Redes Pragmáticas

Diálogo realizado via ‘live’ na XX Semana Universitária da Universidade de Brasília (UnB) no dia 22 de setembro de 2020 (pelo Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas da Universidade de Brasília — LIP UnB)

Hoje eu canto a balada do lado sem luz
A quem não foi permitido viver feliz e cantar como eu
Ouça aquele que vive do lado sem luz
O meu canto é a confirmação da promessa que diz
Que haverá esperança enquanto houver um canto mais feliz

“Balada do Lado Sem Luz”, Gilberto Gil

1. Universidade e sociedade: encontros em tempos pandêmicos

Comecemos com uma pergunta: de acordo com os preceitos que estruturam o ocidente, concordamos que a ideia de conhecimento é, entre outras muitas coisas, um verdadeiro objeto de desejo? Pausa para pensar. A questão pode revelar um posicionamento norteador de nossas ações. Explico. Nas crônicas históricas, a construção de espaços e de gente especializada para lidar com tal ‘objeto’ (de desejo), há muito, é defendida como ferramenta essencial. Como, enfim, lidar-se-ia com problemas e questões fundantes para a evolução racional dos seres coletivos, as criaturas humanas? Onde isso deveria se dar de maneira adequada, ou melhor, ‘ideal’? Estamos, com esse início, justificando de maneira declaradamente redutora as bases da universidade e do que entendemos por ensino superior. Em outras palavras, nessa linha de raciocínio, poderia-se afirmar que a universidade seria um espaço o qual teria por dever deter-se a uma formação confrontadora da mediocridade, o posto do ‘ordinário’.

Eis o que, felizmente, nos últimos tempos, algumes de nós temos parado para refletir: qual mesmo seria o lugar da universidade diante do ordinário? Especialmente, quando o ordinário passou a ser elevado ao centro. A contrapartida, podemos dizer, alinhar a nova realidade ao sofisticado, ao elevado e outras coisas do tipo — aquelas coisas distanciadas do comum, do cotidiano e do dia a dia. Essas questões compõem o centro deste diálogo de hoje.

Mencionar o chamado ‘dia após dia’ é remeter a um termo caro ao norte epistemológico desta ocasião: as práticas sociais. Por contiguidade, trata-se de discurso (do ponto de vista da linguística funcionalista, marque-se) — porém sobre isso, trataremos mais adiante. Percebo que refletir sobre as relações sociais é observar contornos emergentes, mesmo em formatos entendidos como pré-estabelecidos; ao mesmo tempo, trata-se de um deslocar de focos: ao fazê-lo, crises podem ser evocadas, assim como ações passam a ser demandadas.

Essas coisas são reconhecíveis para nós, que, de uma forma ou de outra, estamos relacionades com os famigerados muros da universidade. A temática relacionada ao externo, ao cotidiano, no entanto, tem o histórico pouco pacífico no que diz respeito a como a Academia tem lidado com o social. A isso, mencionemos questões que vão desde a acessibilidade dos espaços físicos até a relação da pesquisa e seu retorno para os cidadãos e as cidadãs nela envolvides. A questão ética. De quaisquer modos, o que mencionei no início desta reflexão — sobre a universidade, o ordinário e o conhecimento — passa pela reflexão atenta, voltada ao conhecimento (do que chamo de ‘incontível fluido’). É a defesa de que o conhecimento já não pode ser sinonimizado com ‘objeto’: eu aliás proponho um posicionamento sobre esse uso. Entender a fluidez do conhecimento é perceber o que nos tem rondado e, mais do que teorizar sobre isso, dar mãos a fim de construir laços com o que está no lado mais afastado, às vezes, oposto.

Este debate assume os tais contornos emergentes quando nos voltamos para um contexto de pandemia. O ano de 2020 será registrado como o ‘ano do isolamento social’ — seja lá qual for o conceito que se dê à expressão. A real situação parece ser que, por conta da rápida disseminação da Covid-19 (desde 2019, porém com seu auge neste ano), nossos mais pesados e mal resolvidos temas brasileiros voltaram à tona. A doença, inicialmente, teve relação íntima com as classes média (alta) e rica, tendo em vista seu início ter se dado fora do Brasil e chegado ao território por viajantes que visitaram regiões afetadas — como a Europa, por exemplo. De acordo com o periódico El País (em setembro deste ano),

o Brasil registrou o primeiro caso do novo coronavírus SARS-Cov-2, causador da doença covid-19, no dia 26 de fevereiro. (…) Em São Paulo. Um homem de 61 anos (…), que esteve na Itália de 9 a 21 de fevereiro, mais especificamente na região da Lombardia, um dos epicentros da crise naquele país.

Já a Folha de S. Paulo, em matéria intitulada

“Primeira paciente de coronavírus no DF está em estado grave” (de março de 2020), descreve: “A paciente de 52 anos foi atendida inicialmente em um hospital da rede privada com tosse e dificuldade para respirar. Ela retornou recentemente de uma viagem à Inglaterra e Suíça”.

Ainda assim, as coisas começaram a seguir um desenho ainda mais preocupante quando, por uma série de controversas e irresponsáveis decisões do governo federal (declarações oficiais problemáticas e desencontradas; trocas frequentes de titulares no Ministério da Saúde; disputas políticas internas etc.), a crise sanitária foi consolidada no território brasileiro.

O Brasil, nos pandêmicos tempos de 2020, mostrou de vez uma face que há tempos tem sido por muitos como um objeto conhecido e observável: a indiferença a nosses cidadãos e cidadãs mais vulnerabilizades. Como inicia o artigo “Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da Covid-19” (GOES & RAMOS & FERREIRA, 2020, p. 2):

A pandemia do novo coronavírus tem sido um desafio para países que apresentam profundas desigualdades internas. E no Brasil as desigualdades têm raça, cor e etnia, pois é um país estruturado pelo racismo, que permanece com as suas raízes fincadas no sistema escravocrata. É um processo histórico que ao longo do tempo tem determinado os lugares sociais das pessoas de acordo com a raça ou etnia. Negras e negros estão mais representados nos indicadores negativos, como atividade no mercado de trabalho informal, que limita o acesso a direitos básicos como a remuneração pelo salário mínimo e a aposentadoria. Por outro lado, são os brancos que apresentam o maior rendimento médio domiciliar per capita, superando quase duas vezes o da população negra — R$ 1.846 contra R$ 934 (IBGE, 2019).

Complementando a linha de raciocínio, no artigo “População negra e Covid-19: reflexões sobre racismo e saúde”:

No Brasil, diferentemente de outros países, o governo adotou inicialmente distanciamento e isolamento sociais como estratégia de enfrentamento da pandemia, mas logo em seguida optou por colocar em primeiro plano a economia e minimizar os efeitos da Covid-19. O governo brasileiro passou a não seguir as recomendações feitas pela Organização Mundial de Saúde e pelo seu próprio Ministério da Saúde. Além disso, não tem demonstrado liderança, nem se comunicado como é esperado, com os entes federativos — estados e municípios — em se tratando do enfrentamento a uma pandemia (SANTOS ET AL., 2020, p. 229).

Além desses já pesados acontecimentos exemplificados, o obscurantismo também teve lugar no contexto do novo coronavírus: desde o início de 2019, a ciência tem sido relegada a um papel de dissolvida importância dentro da proposta liberal-populista do governo federal. Em diversos momentos da pandemia, o atual presidente brasileiro desqualificou a Organização Mundial da Saúde (OMS), pondo em dúvida o trabalho de diverses técnicos e técnicas da saúde diante da nação, diante de quem quiser ouvir suas platitudes. Atentemos: essas manifestações não são acidentais; são construídas para gerar efeitos a quem elas chegarem — ou melhor, atingirem –; são, pois textos. Textos são sempre moldados para atingir propósitos.

Poderia, com efeito, ficar toda esta reflexão rememorando os inacreditáveis ataques que cientistas e a construção de conhecimento embasado vêm sofrendo nos últimos tempos. Esse, no entanto, não é o objetivo central do momento. O que pretendo com esta exposição é realizar uma provocação, mas uma de natureza salutar. Gostaria, mais especificamente, de localizar nosso lugar, público da universidade, como pessoas que acreditam no conhecimento como forma de iluminar quem e o que se fundamentam na ignorância. Para tanto, repensar nosso lugar como espaço de construção do conhecimento diante de um ataque (nada velado) é urgente. Pretendo também estimular este mesmo diálogo para a articulação da Academia com a sociedade que a vê de longe — e que, dado o poder desses textos verbais e não verbais, operados audiovisualmente, podem formar suas opiniões diante dos símbolos culturalmente estabelecidos como exemplares. Falo especificamente dos alcances que os textos têm para que discursos sejam estabelecidos ou não, bem como sobre a possibilidade de desconstruí-los a partir de um projeto reticular e lúcido.

2. Linguagem e sociedade: o fluxo texto-discurso

Eu, Gersiney Santos, sou da Universidade de Brasília, tenho a UnB em minha genética intelectual. Sou um analista do discurso crítico, mas, antes disso, sou um linguista. Sou orgulhosamente alguém que encontrou nos meandros da linguagem um lugar de observação mais focada.

Assim sendo, as coisas faladas, escritas, publicizadas jamais são tomadas por mim como casualidade: especialmente, quando estamos falando de espaços de poder. A linguagem é vida, e nossa vida só é vida por meio da linguagem. Por meios linguísticos, nós declaramos o mundo, tratamos sobre coisas de nossa existência; caracterizamos o que nos circunda e o que nos afeta: agimos, representamo(-nos) e identificamo(-nos) (n)o mundo.

A partir dessa declaração, já se pode observar a dimensão da linguagem. Os textos, como manifestação linguística mais concretizada, são organizados para expressar de forma cristalizada, o que se deseja comunicar. Dentro do que explicam a Dra. Laura Pardo (2011) e a Dra. Viviane de Melo Resende (2019), os textos comportam-se forma funcional nos contextos em que estão inseridos, assumindo, estruturalmente, formas e desempenhando funções mais ou menos esperadas para propósitos comunicativos (é só lembrarmos que quando queremos saber de informações sobre política, lemos/vemos, em geral, notícias, ou ainda quando temos de registrar cientificamente um tema por escrito, em determinados momentos, espera-se que preparemos um artigo, por exemplo). É a noção básica dos gêneros discursivos. São eles, os gêneros discursivos, que organizam boa parte de nossas ações e interações no mundo social. Os gêneros, portanto, são fundamentais, pois não se limitam ao verbal — ou seja, à primazia da palavra escrita e oral — e conseguem organizar nossos modos de ser e existir no mundo (desde aquele edital de seleção até aquele tutorial de maquiagem ou o ‘react’ vistos no YouTube).

Esta não é uma aula de linguística, por isso cabe explicar que a síntese do trecho anterior foi trazida para observarmos que os gêneros discursivos estão em todos os momentos de nossas práticas. Nós já havíamos conversado sobre elas (as práticas sociais). Assim sendo, os textos (como explicado, verbais e não verbais) são estratégicos e, dependendo dos gêneros nos quais são concretizados seus propósitos, conseguem alcançar, digamos, mentes e corações. Pese o fato de, simples assim, aqueles que sabem manipulá-los da maneira mais efetiva estabelecerem suas mensagens — e, por extensão, suas visões de mundo. É sobre saber configurar textos de acordo com objetivos particulares a que também se dedicam os Estudos Críticos do Discurso (ECD).

Os ECD têm um histórico que vem de mais de duas décadas atrás (de companheires de diversas partes do mundo), porém meu foco é destacar nosso trabalho na América Latina, para relacionarmos com o tema desta fala: universidade, sociedade e o conhecimento no Brasil.

Da pujante tradição estrangeira, posso destacar a noção crítica de discurso, como um nexo ativo entre linguagem e sociedade: é um fluxo notado por poucas pessoas e que, por isso, acaba sendo minimizado no que toca a seus efeitos causativos. Parece-me bastante nítido que observar sem ingenuidade os textos, melhor ainda, os gêneros discursivos, é também posicionarmo-nos para tomá-los como uma ferramenta rumo ao início de novas ações crítico-reflexivas. São tais movimentos que contribuem para uma agência robusta diante dos fatos do mundo social que nos atravessam.

É neste momento, que chamo a atenção para nós, profissionais de Letras, a refletirmos: como tem sido nossa relação agentiva diante dos textos (verbais e audiovisuais) que consumimos e compartilhamos? Somos parte da sociedade, por isso, a provocação estende-se a quem me ouve, qualquer que seja sua área profissional. A reflexão sobre o ordinário, que mencionei no início deste texto, volta, então, à tona: estamos tratando os textos como objetos de trabalho, apenas? Com isso, quero problematizar, não estaríamos trabalhando somente com o que sempre nos foi orientado e pré-estabelecido como ‘texto’? Estaríamos negligenciando as potencialidades que o conhecimento crítico-reflexivo dos textos nos propõem? Estou provocando todos nós a pensar sobre reexistir, a partir do que a Dra. Ana Lúcia Silva Souza (2009) chama por “letramentos de reexistência”. Estou efetivamente falando, evocando inclusive a Honorável Beatriz Nascimento e o Me. Allan da Rosa (2013), i.e., a reexistência. Reexistir tem a ver com redes, com conexão. A universidade (falando da energia que passa por suas veias e artérias, ou seja, nós), em tempos tão duros como esse de 2020, necessita apostar nas potencialidades encobertas pelo rótulo estratégico do ‘banal’, do ‘trivial’. Ambas palavras relacionam-se ao cotidiano, a dia a dia, e é nesse sutil processo que ‘verdades’ vão sendo construídas e disseminadas: que a história passa a ser recontada. Vejo que a resistência deve ser mantida por meio das reexistências.

É sobre isso que me interessa dialogar com quem me presenteia a atenção. Pensar em como nossas universidades podem se portar contributivamente diante da pandemia da Covid-19 (e de quaisquer outras), vejo eu, implica também trabalhar os textos de modo crítico-reflexivo. Um dos intuitos norteadores é saber inclusive como esses modelos linguísticos podem ser aplicados a estratégias de enfrentamento ao obscurantismo assassino. Trata-se, pois, de unir forças e saber o que interessa a quem deve beneficiar-se dos anos que passamos dentro dos famigerados muros acadêmicos. Se não estamos, dentro da universidade, atentes e preocupades a entender, viver e defender a cidadania, seremos parte de um exército de defesa do que aí esteve/está. Infelizmente, em tempos pandêmicos, não há lugar para meio termos cidadãos.

3. Redes Pragmáticas, educação e cidadania

Enfim, chego às Redes Pragmáticas (RP). Falar sobre as RP é, para mim, (re)visitar um tempo e um modo de vida.

“Redes Pragmáticas” é um rótulo que desenvolvi a partir de meu trabalho de doutoramento. No momento, estou desenvolvendo uma publicação um pouco mais aprofundada, mas suas bases estão na parte final de minha tese, na qual faço uma reflexão sobre todo o percurso de minha então pesquisa — voltada ao Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR) e o discursivo de sua luta. Naquela época (2017), eu, orientado pela inspiradora Dra. Viviane de Melo Resende, dediquei uma parte do documento a refletir sobre como o contido naquelas (mais de cem) páginas poderia ser reverberado após o recebimento de meu título. Foi nesse contexto que, na parte da tese intitulada “Crítica explanatória”, desenvolvi o conceito das RP.

Em linhas gerais, as RP podem ser entendidas como um trabalho multidisciplinar focado em responder de modo efetivo a determinadas problemáticas sociais. A base para o trabalho é a conexão entre diferentes agentes sociais em uma estrutura de projetos articulados com propósitos estabelecidos e exequíveis. Para tanto, o conceito está estruturado em quatro eixos (ou vértices) propulsores que baseiam as ações: 1. Exercício da reflexividade; 2. Intervenções antirretóricas; 3. Visibilidade estratégica; 4. Produção reflexiva-social.

Em linhas gerais, o primeiro eixo (exercício da reflexividade) tem a ver com um trabalho de letramento social de proposta pluricultural (muito baseado nos trabalhos de Souza (2009) e Rosa (2011)); o segundo (intervenções antirretóricas) trata de ações planejadas e estruturadas que extrapolem o caráter puramente teórico ou ideacional de intervenções no mundo (com cronogramas e acompanhamento contínuo, por exemplo); o terceiro eixo, a visibilidade estratégica, diz respeito ao uso dos gêneros discursivos verbais aliados aos audiovisuais/digitais para a ampliação das estratégias dialogadas; e o último eixo (a produção reflexiva-social) trata de um trabalho de produção textual (aqui, texto em sentido ampliado) que deixe os processos de intervenção social registrados como exemplos de resistência.

O que une as RP ao tema deste diálogo — UNIVERSIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA: Um diálogo sobre discurso, texto e cidadania a partir das Redes Pragmáticas — é propor que, com base no que apresento como passos possíveis de serem colocados em prática, não desconsideremos a experiência social como um meio de ação eficaz. Como adiantei, desejo promover uma provocação fértil para que juntes elaboremos estratégias que levem em conta as redes estabelecidas entre os diversos lugares sociais para o combate de problemáticas advindas, entre outras coisas, do obscurantismo. Quando convido para o debate sobre as RP, estou promovendo a reflexão sobre reexistências (como já discuti em algumas de minhas publicações e diálogos), da necessidade delas como propósito da resistência frente a projetos de destruição social em prol do eminentemente econômico.

Com as RP, trago para a crítica um modelo metodológico a ser aprofundado, que aponta o trabalho textual crítico-reflexivo como um meio para a reexistência social. Teoricamente, converso com autoras e autores que se destacam por ver no extramuros da academia um lugar de respeito e de troca: de aprendizagem para evoluir, reexistir. Dentro do que observo, para alcançar tal propósito, a universidade tem papel fundamental, apesar de não o mais importante; e profissional de Letras (em união com outras áreas) inclusive: por termos uma relação tão particular com língua e com linguagem, somos centrais nos quatro vértices propostos. As RP estão pensadas para articular saberes e colorir os conhecimentos; por isso, as ideias de ‘empoderamento’ ou de ‘dar lugar’ (algo comum em algumas falas de indivíduos em posição de poder) não são interessantes. É um movimento multicaracterizado — em termos de saberes, de experiências e de lugares sociais — sempre pautado pelo exercício da abertura à diferença, desde que adicionada a um projeto político (não partidário) realista de mudança social.

Considerações finais

Gostaria de finalizar, explicando meu profundo respeito pela luta das populações vulnerabilizadas — como o é a população em situação de rua — que, nesse contexto terrível de pandemia da Covid-19, têm sido os alvos preferenciais do obscurantismo que vimos vivendo (e que apontei neste diálogo) no Brasil. Assim sendo, eu, a partir das RP, venho desenvolvendo o que acredito ser possível nos contextos em que atuo: sala de aula, projetos particulares, nas relações com es que, mesmo diferentes de mim, baseiam suas ações no respeito ao outro.

O ano de 2020 tem sido um divisor de águas (e não estou certo se essa é uma declaração de todo positiva); ainda assim, podemos pensar estratégias para dialogar com quem tem os espaços sistematicamente obstados ou categoricamente fechados, mas DI-A-LO-GAR — ou seja, ouvindo com vistas a aprender. Sei que nós na Academia somos seduzides a ocupar aquele lugar onírico do ser incensado por todes: acho, no entanto, que esse tipo de delírio — em certos casos, de baixa autoestima — não pode bloquear nosso potencial de lutar por um lugar melhor para existir. Qual a distância do Sonho do herói (do aplauso social) para o individualismo? A cidadania não deve ser um artigo de luxo, possível de ser adquirido apenas com dinheiro e status.

Por fim, é assim que vejo — e luto (até comigo mesmo) — meu lugar em meio ao tanto de prestígio dentro da universidade. Disse, momentos atrás, que antes de ser analista de discurso crítico era um linguista, no entanto, antes disso tudo, sou um cidadão que acredita na cidadania. Atento às Humanidades. Atento à humanidade.

Esta reflexão é em honra da Grande e Eterna Maria Lúcia Pereira da Silva. Procurem saber.

Sempre a Luz.

OBS.: Para as referências completas deste texto, entrar em contato por @DrGersiney, no Twitter.

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Prof. Gersiney Santos

Pelo mundo social: analista, navegando em textos, refletindo sobre discursos. ▶️ apptuts.bio/gersineysantos